quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

As I am

Quebrei o espelho. Me joguei no chão e senti aquelas lágrimas quentes tão conhecidas por mim, jorrarem dos meus olhos. Mais uma vez eu estava ali. No chão frio. Me perguntando porque eu era assim. Me senti impotente. Nada que eu fizesse, ou deixasse de fazer, iria me resgatar daquele breu que me sugava constantemente. Quebrar aquilo que refletia meu horror, meu pesadelo, não havia me deixado mais aliviada. Aquele gesto só confirmava algo que eu já sabia, que eu escondi tão bem dentro da minha alma, dentro da minha ilusão: Eu desprezava cada parte do meu ser.
É engraçado o que a gente pode fazer com a gente mesmo. Podemos nos destruir com poucas palavras, algumas percepções erradas ou com qualquer olhar mau interpretado. Alguns instantes depois de eu me levantar e afastar alguns cacos do meu grande inimigo -agora- estraçalhado, e de me jogar na cama para encarar os pedaços do espelho que refletiam o teto, eu percebi. Percebi algo que eu achei que iria demorar muito mais que alguns minutos de silêncio para entender: As pessoas são só pessoas. Não tem o poder de julgar ninguém. Algumas avaliam as outras pelo exterior porque é só isso que elas mesmas possuem. O seu exterior pode ser impecável, mas não é válido se sua alma é podre, se seu sorriso é hipócrita,ou se seu cérebro não funciona. Todos somos bonitos, de um jeito particular. Somos diferentes. No final, só temos que acreditar em nós mesmos.

Texto: Mariana S. Cardoso



segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Ernesto e Ana

Ernesto era um homem ranzinza. Tinha a idade pelas casas dos quarenta e não via beleza em absolutamente nada.
Acordava as 6:30 hr, olhava através da janela e reclamava do tempo, -fosse ele ensolarado, chuvoso ou até mesmo um tempo fresco - ele nunca estava satisfeito.
Ele era trabalhador e ganhava muito bem , obrigado. Apesar da riqueza, nunca deixou sua casa mediana. Ele mal comprava nada. Ernesto não gostava suficiente de alguma coisa a ponto de querer possuí-la. Não tinha amigos e perdera contato com a família. Era o tipo de pessoa que não tinha razões para viver. Ele era tão normal, tão desinteressante que nem pensamentos suicidas se passavam pela sua mente. Seria drama demais. Ernesto não gostava de exageros. Ele nem gostava de "medianices" para ser honesta.
Até o dia em que ele viu a Ana passar pela mesa de seu trabalho. Ana tinha 38 primaveras muito bem vividas. Viajou o mundo, conheceu pessoas importantes -não personalidades mundiais e sim amigos para carregar no coração- , e tudo que alguém alegre e inquieta demais como ela poderia querer. Ela não era rica, não decidiu que faculdade faria, de primeira, e até hoje ela não sabe o que quer ser. Interessante até o último fio de cabelo e intensa ao extremo, a desmiolada logo se apaixonou por Ernesto, seu oposto, que também sentiu o mesmo.
A história só termina no dia em que eles não estiverem mais entre nós, mas posso dizer que depois que Ernesto encontrou a Ana, um mundo mais colorido e esplendido se abriu para extinguir o motivo de todo aquele mau-humor: A solidão.

Texto: Mariana S. Cardoso




segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Inapagável, por pouco tempo

Não consigo distinguir o domingo de segunda. Os dias passam iguais. A cama desforrada, o som que não reproduz nenhum timbre de voz melodioso, um porta-retrato sem imagem alguma. A vida tem passado imperceptível por mim. O tempo não está curando o meu amor. O vento não está espalhando os pedaços das minhas asas quebradas. Elas continuam aqui, caçoando da minha queda, arremessando verdades cortantes que me transformam em desilusão.
Definitivamente eu não consigo achar mais graça no brilho constante da lua. Não consigo sorrir ao ver as folhas alaranjadas pelo outono dançarem numa árvore após a breve ventania. Nem percebo mais o desenrolar dessas cenas; Passo mais tempo tentando criar coragem para seguir em frente. Talvez amanhã eu coloque alguns discos velhos para tocar e comece a recolher os pedacinhos das minhas -um vez inteiras - asas que me permitiram acariciar as nuvens. Mas nessa noite em que as gotas de chuva batem incessantemente na minha janela, me deixe pela última vez afogar-me na culpa e ilusão.

Texto: Mariana S. Cardoso




sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

I'm talking about love



Ela correu ao encontro dele. Respiração falha, pernas oscilando, mãos suando, coração martelando. Ele a pegou no colo. Se abraçaram tão forte que pareciam ter se tornado um só. A saudade era demasiada. Namorados, amigos e amantes. Ficaram naquele abraço por uma fração de segundo até que a saudade fez os seus lábios se encontrassem tão docemente e desesperadamente. Enfim, juntos. Tão distantes anteriormente e agora desfrutavam do mesmo ar. Era tão esperado esse reencontro. Imagino que ambos estavam cansados por não terem conseguido dormir pela ansiedade que tomava conta da alma e coração. Tanto sofreram com a ausência do outro. Tantas lágrimas escorreram ininterruptamente em suas faces. O coração partia-se mais a cada segundo sem o toque abrasador do amante. Talvez a dor e a carência desses meses que os separaram tenham servido para que percebessem o quanto se amavam. E que esse amor era infinitamente superior a quaisquer milhas de distância.

Texto: Mariana S. Cardoso.